A relação entre células natural killer e falha reprodutiva é uma das áreas mais controversas de medicina reprodutivas. A investigação da expressão destas células em falha de implantação em fertilização in vitro mostra resultados conflitantes. Ao passo que alguns autores defendem testes diagnósticos e tratamentos baseados nestes resultados, outros se manifestam categoricamente contrários a qualquer investigação e terapêutica neste sentido.
Como a resposta( auto) imune poderia justificar a falha de implantação em casais submetidos a fertilização in vitro(FIV)?
O mecanismo de resposta auto imune é complexo e exige o funcionamento de um cascata de fatores. Nos mamíferos (incluindo seres humanos) para que a reprodução ocorra com sucesso, a mãe deve adaptar o seu sistema imune para rejeitar aos antígenos específicos produzidos pelo embrião. A adaptação envolve uma perfeita comunicação do embrião com o sistema imune da mãe.
Como se avalia a resposta auto imune celular?
A resposta do auto imune pode ser avaliar com a realização dos seguintes auto anticorpos: antifosfolipídeo, fator anti nuclear, anti tireóide e anticoagulante lúpico.
Existe indicação para avaliação aloimune em falha de implantação?
Nós avaliamos fatores de risco aloimune pesquisando o imunofenótipo reprodutivo de cada casal e utilizando kit para verificar ativação das células NK.
Qual é o papel das células natural killer no processo de implantação embrionária?
Natural killers são um tipo específico de linfócito, que produzem citocinas, várias formas de proteínas. Algumas citocinas são “boas” e algumas são “más” no que diz respeito à gravidez. As “màs” citocinas são chamadas TH1 e podem estimular a formação de trombos na placenta ou na área de implantação do embrião, e levando ao abortamento ou impedindo a implantação.
Quais são as semelhanças e diferenças entre as células natural killer (NK) periféricas e as endometriais?
As células natural killer uterinas são células que habitam o útero após terem percorrido a circulação sanguínea em resposta a produção hormonal (especificamente progesterona). Quando presentes no útero, as células natural killer alteram seu fenótipo, deixam de ser largamente CD56+16+ (presente na circulação periférica) e passam a ser CD56+16-, específicas do útero. Desta forma, elas nada mais são do que as mesmas células, localizadas em local diferente e com diferente fenótipo.
Quando indicar avaliação de células NK e qual mensurar?
Existem diversas definições de falhas de implantação e nenhum consenso de quando é o momento ideal de iniciar a investigação. Quando indicar é uma pergunta que deve ser respondida de forma individualizada para cada casal em cima de um específico contexto.
Podemos mensurar ambas, com o mesmo resultado visando planejamento terapêutico. O problema com a avaliação das células NK endometriais é que requer uma biopsia endometrial e não poderá ser usada para monitorar as células NK durante a gestação. Apenas as células NK de sangue periférico poderão ser úteis para este monitoramento e consequente indicação de reforço de medicação.
Qual é o papel do corticóide, de transferência de linfócitos, da imunoglobulina e da injeção de anticoagulante no tratamento?
Cada tratamento tem uma indicação específica e novamente deverá ser individualizado para cada casal. Os corticosteróides diminuem a produção de anticorpos de células B. A imunoglobulina atua destruindo tanto os auto anticorpos quanto as células NK. Os anticoagulante diminuem a citotoxicidade (“matam”) das células NK, mas não tem efeito sobre os autoanticorpos. Desta forma, sempre que tivermos alteração em anticorpos antifosfolipídio, fator anti nuclear, anti tireóide e anticoagulante lúpico, devemos utilizar tratamento com imunoglobulina e não somente anticoagulante. Se a alteração for somente na quantificação de células NK, podemos tratar com custo mais reduzido.
Imunização com linfócitos não é aprovado pelo FDA, então não pode ser utilizado nos EUA. No Brasil utilizamos a imunização com linfócitos, em casos seletos diagnosticado por exames específicos.